

NEUROCIÊNCIA - O DESENVOLVIMENTO DO CÉREBRO E A APRENDIZAGEM
Jessica Ghiraldelli Paixão
A Neurociência é uma ciência que visa o desenvolvimento do sistema nervoso e suas estruturas. Segundo Lent (2016), “a Neurociência é o conjunto das disciplinas que estudam, pelos mais variados métodos, o sistema nervoso e a relação entre as funções cerebrais e mentais”.[1] Os estudos nessa área tornam-se cada vez mais importantes, tendo como finalidade desvendar o sistema nervoso central, compreendendo as funções cerebrais e aplicando esses conhecimentos na vida cotidiana, principalmente no tratamento e reabilitação da saúde física, emocional e no desenvolvimento das aprendizagens.
O cérebro humano é formado por aproximadamente cem bilhões de neurônios, que se comunicam entre si por ramificações. Cada neurônio faz um grande número de ligações com outros neurônios, sendo de mil a dez mil contatos. Nesses locais de conexão é que ocorrem as sinapses, ou seja, o compartilhamento de informações, e essa comunicação é feita por meio da liberação de uma substância química, chamada neurotransmissor. As sinapses são áreas que regulam a transferência das informações no sistema nervoso e, portanto, tem uma grande importância no processo de aprendizagem.[2] O sistema nervoso do ser humano é concebido, em sua maior parte, durante o estágio embrionário e fetal, seguindo etapas essenciais para a correta conexão entre as células nervosas. No entanto, a maior parte das conexões dos neurônios ocorrem após o nascimento, a partir de suas interações com o meio.
Dessa forma, é de grande relevância a abordagem da Neurociência no campo educacional, contribuindo com docentes e psicopedagogos numa compreensão científica do processo de ensino e aprendizagem, visando alcançar sua qualidade.
Os anos iniciais das crianças são de grande importância para a sua formação plena. Enquanto educadores, não podemos negligenciar esse período, pois nas fases iniciais após o nascimento até aproximadamente dois anos, as conexões sinápticas aumentam substancialmente, formando muitos circuitos. São as interações com o meio ambiente que propiciam a formação de novas sinapses no cérebro e no sistema nervoso, favorecendo a aprendizagem e formando novos comportamentos como consequência. A grande parte de nossos comportamentos não são inatos, mas aprendidos.
Muitos estudos demonstraram a importância da estimulação ambiental para o desenvolvimento do sistema nervoso, levando-nos a reflexões sobre os benefícios da estimulação precoce das crianças para o desenvolvimento de um sistema nervoso mais complexo. Porém, as pesquisas[3] não indicaram que há necessidade de maiores estímulos e experiências do que as que já fazem parte das vivências infantis, mas que a falta de estimulação sensorial e contato social, que ocorrem em ambientes muito carentes, podem gerar atrasos em habilidades motoras, fala, distúrbios emocionais e cognitivos.
Nos anos iniciais, o sistema nervoso humano é extremamente maleável (plasticidade cerebral) e, portanto, com grande capacidade de novas sinapses. As habilidades motoras e as percepções sensoriais também requerem períodos de aprendizagem, a partir da influência do meio ambiente. A maturação cerebral desenvolve-se muito até a adolescência, mas apesar de o cérebro adulto não ter uma plasticidade tão grande, os estudos atuais afirmam que a plasticidade nervosa acontece durante a vida toda, e dessa forma, a aprendizagem é possível em qualquer faixa etária.
No entanto, existem algumas fases da vida em que a aprendizagem de certas competências ocorre mais facilmente, e a falta de estímulos podem dificultar o desenvolvimento pleno. Algumas pesquisas[4] ressaltam a importância dos seis primeiros anos de vida da criança e também dos cuidados pré-natais com relação a saúde e boa nutrição, visto que criam um alicerce para as etapas futuras de aprendizagem. Existem alguns períodos da primeira infância bem sensíveis, com um alto grau de plasticidade cerebral. Porém, atualmente, a maior parte dos estudiosos em neurociência consideram que esses períodos críticos não são tão limitantes, e que o cérebro tem capacidade de se alterar de acordo com as experiências durante a vida, ou seja, habilidades não desenvolvidas podem ser recuperadas na idade adulta.
O processo de aprendizagem ocorre de forma contínua, e para que seja efetiva e permanente, necessita de estímulos para a construção de mais sinapses ou para reforçar as ligações existentes. “É importante salientar para o educador que a informação nova se “ancora” naquela já existente em algum lugar do cérebro da criança”. [5]
O processo de aprendizagem apresenta grande complexidade, pois envolve questões biológicas, sociais, comportamentais e emocionais, sofrendo influências do meio ambiente e da cultura em que se está inserido. É de grande importância estabelecermos a ideia de que não devemos separar o ser social e o ser biológico, mas sim ter a compreensão do ser humano como um indivíduo integral em todos os seus aspectos.
[1] LENT, R. Neurociência da Mente e do Comportamento. São Paulo: LAB, 2016.
[2] COSENZA, R.; GUERRA, L. Neurociência e Educação: como o cérebro aprende. Porto Alegre: Artmed, 2011.
[3] BARTOSZECK, A.B.; BARTOSZECK, F.K. Neurociência dos seis primeiros anos: implicações educacionais. Educação: Temas e problemas. v.9, p.59-71, 2012
[4] BARTOSZECK, A.B.; BARTOSZECK, F.K., op.cit.
[5] Ibidem, p. 68
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